(por Padre Marcelo Eduardo)
É complexo o cenário atual.
A pandemia tem revelado corações e intenções. Nessa marca que já supera o prazo de um ano, o Coronavirús exigiu e exige de todos condutas e posturas aquém a expectativas, metas, planos e sonhos.
Todas as áreas humanas foram afetadas e vão, a passos lentíssimos, tateando sobreviver. O tal novo normal é tão novo quanto anormal. Desafiador. O foco está sobre a economia e o trabalho.
No palco da vida (ou da morte) está a saúde, ora louvada, ora vaiada, varrida, banida, exposta ao caos. Nesse elã da vida à morte, saltam aos olhos os protagonistas da linha de frente. São os profissionais da saúde, “que estão na vanguarda arriscando a própria vida para salvar outras vidas”. No entanto, como em todo elenco, há coadjuvantes dignos da atenção dos expectadores. Tantos profissionais de serviços essenciais que nem sempre são listados, mas continuam atuando. Nossa Igreja é mestra em servir sem chamar a atenção… São tantos missionários, religiosos, leigos, irmãos no sacerdócio, tantos servidores do povo que continuam agindo discretamente.
Aqui incido luz sobre a assistência espiritual que tem sido prestada por nós sacerdotes, que temos procurado “ajudar e apoiar a todos, com solicitude pastoral e dedicação evangélica”. Particularmente, nestes tempos marcados por fragilidades e tribulações devidas também à pandemia, as incertezas e medos sobre o futuro e o próprio sentido da vida tem assolado o coração da humanidade e batido às portas dos nossos cofessionários, sacristias, casas e secretarias paroquiais. E estamos lá para recebê-los. Mais ainda. Vamos ao encontro daqueles que não mais batem. Como muitos de nossos irmãos, nos reinventamos e aprendemos a servir de novas formas para chegar àqueles que necessitam.
E sobrepondo, em nós, todas as incertezas do tempo presente, cabe aos presbíteros terem sempre uma palavra acertada aos que tem fome de consolo e conforto da alma. Aos que tem fome do pão material sobre suas mesas, deverá ter sempre o que oferecer, partilhar… Farei aqui um pedido antes de continuarmos. Cada pessoa, cada vocação é um dom irrepetível para a Igreja, para o mundo… Lembrem-se de quem se lembra, e é esquecido. Quem cuida também demanda cuidado.
Sinto faltar-nos um olhar, uma prece, um pensamento elevado ao céu por nós, homens eleitos, separados, consagrados, que a crise pandêmica também adoeceu, também ceifou entes queridos e amigos próximos, e ainda exige dinâmica e criatividade ao celebrar.
Por trás das lentes não se vê os improvisos e imprevistos. Não se pode focar num cem número de bancos vazios que se fazem assembleia. Não se pode falar das contas que não fecham, do Dízimo que não entra nem do saldo negativo do qual não se sai há meses… “Vai, lá! Celebre dando o melhor de si! O rebanho tem direito e urgência do entusiasmo do pastor.
Deixa suas inquietações para o travesseiro quando o sono te abandonar como tem feito há algumas muitas noites. Nada de partilhar com um irmão de ministério. Ele pode estar pior que você e pode ser, ainda, um atestado de fracasso da sua parte…”
Voltando ao objetivo da reflexão, é necessário um olhar misericordioso sobre cada um que se empenha nestes tempos, inclusive na direção dos padres, dos párocos aos vigários e colaboradores. Somos homens que temos nos desdobrado e estamos expostos ao risco do esgotamento e da fuga à essência primeira do Ministério sacerdotal em vãs compensações.
Devotem-nos a vossa oração, o vosso cuidado e atenção. A oração nos une a todos. Muitos tem nos amado e sido Miseriórdia conosco ao nos enviar um almoço, ao nos oferecer um prato especial no domingo à noite, após a trasmissão da Missa Paroquial, com a fidelidade do dízimo e ofertas enviados. Em tudo tem nos sutentado a Misericórdia de Deus. “Que sejamos dóceis, mas não omissos. Sérios, mas não severos. Não desprezemos os pobres, nem adulemos os ricos. Sejamos amáveis ao confrontarmos os pecadores, prudentes ao interrogá-los e doutos ao instruí-los”.
Esperemos Nele. “Todo sofrimento é por enquanto”.
Gratidão e perseverança a todos. Deus vos abençoe!